moledro
n. a feeling of resonant connection with an author or artist you’ll never meet, who may have lived centuries ago and thousands of miles away but can still get inside your head and leave behind morsels of their experience, like the little piles of stones left by hikers that mark a hidden path through unfamiliar territory.
o que me vale aos fins de semana
é o teu amor provinciano e bom
para ele compro bombons
para ele compro bananas
para o teu amor teu amon
tu tankamon meu amor
para o teu amor tu te flamas
tu te frutti tu te inflamas
oh o teu amor não tem com
plicações viva aragon
morram as repartições
Manuel António Pina
I’ve got to tell you
how I love you always
I think of it on grey
mornings with death
in my mouth the tea
is never hot enough
then and the cigarette
dry the maroon robe
chills me I need you
and look out the window
at the noiseless snow
At night on the dock
the buses glow like
clouds and I am lonely
thinking of flutes
I miss you always
when I go to the beach
the sand is wet with
tears that seem mine
although I never weep
and hold you in my
heart with a very real
humor you’d be proud of
the parking lot is
crowded and I stand
rattling my keys the car
is empty as a bicycle
what are you doing now
where did you eat your
lunch and were there
lots of anchovies it
is difficult to think
of you without me in
the sentence you depress
me when you are alone
Last night the stars
were numerous and today
snow is their calling
card I’ll not be cordial
there is nothing that
distracts me music is
only a crossword puzzle
do you know how it is
when you are the only
passenger if there is a
place further from me
I beg you do not go
Frank O'Hara
All that is gold does not glitter,
Not all those who wander are lost;
The old that is strong does not wither,
Deep roots are not reached by the frost.
From the ashes a fire shall be woken,
A light from the shadows shall spring;
Renewed shall be blade that was broken,
The crownless again shall be king.
J. R. R. Tolkien
maggie and milly and molly and may
went down to the beach(to play one day)
and maggie discovered a shell that sang
so sweetly she couldn’t remember her troubles,and
milly befriended a stranded star
whose rays five languid fingers were;
and molly was chased by a horrible thing
which raced sideways while blowing bubbles:and
may came home with a smooth round stone
as small as a world and as large as alone.
For whatever we lose(like a you or a me)
it’s always ourselves we find in the sea
e. e. cummings
When you are old and gray and full of sleep
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;
How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true;
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face.
And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how love fled
And paced upon the mountains overhead,
And hid his face amid a crowd of stars.
William Butler Yeats
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.
But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another’s throats.
Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don’t have any kids yourself.
Philip Larkin
Rêve Oublié
Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
António Maria Lisboa
No café trazem-me um copo com água
como se ele resolvesse todos os meus problemas.
É ridículo – penso – não há saída.
No entanto, depois de beber a água
fico sem sede.
E a sensação exclusiva do organismo
acalma-me por momentos.
Como eles sabem de filosofia – penso –
e regresso, logo a seguir, à angústia.
Gonçalo M. Tavares
Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
dos livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever
Adília Lopes
Apagaram-se as luzes azuis da ambulância
e mais ficou na nossa imagem a cor do sangue.
No trajecto vi mais o teu ser do que à mesa,
na cama, no trabalho, o que vi deixou-me
descansado: humano, demasiado humano.
Tudo podia ter sido mais fácil, eis o que pode
dizer qualquer um, e mesmo que quase não
haja dinheiro para o táxi e te sintas à beira
do precipício, levanta a garganta e berra
para aí até já não haver quem te oiça.
Da missa metade não soube em tua história
e também não é preciso, todos nós já corremos
para um hospital e viemos de lá a cheirar
a doença e a morte. Por nós ou por outros,
nessa grande casa da tristeza e do alívio,
democracia total o acaso que dispara
e acerta ou não acerta em quem vai a passar.
Alguém te segura à beira da derrocada
e te pergunta saberás se lá no fundo há
algo que valha a pena? Pode ser que sim,
pode ser que não, ninguém sabe.
Helder Moura Pereira
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
Manuel António Pina
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
José Gomes Ferreira
A is for Amy who fell down the stairs
B is for Basil assaulted by bears
C is for Clara who wasted away
D is for Desmond thrown out of a sleigh
E is for Ernest who chocked on a peach
F is for Fanny sucked dry by a leach
G is for George smothered under a rug
H is for Hector done in by a thug
I is for Ida who drowned in a lake
J is for James who took lye by mistake
K is for Kate who was struck with an ax
L is for Leo who swallowed some tacks
M is for Maud who was swept out to sea
N is for Neville who died of ennui
O is for Olive run through with an awl
P is for Prue trampled flat in a brawl
Q is for Quentin who sank in a mire
R is for Rhoda consumed by a fire
S is for Sarah who perished of fits
T is for Titus who flew into bits
U is for Una who slipped down the drain
V is for Victor squashed under a train
W is for Winnie embedded in ice
X is for Xerxes devoured by mice
Y is for Yorick whose head was knocked in
Z is for Zillah who drank too much gin
Edward Gorey, The Gashleycrumb Tinies
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
tão fora d' esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castelo Branco
The mower stalled, twice; kneeling, I found
A hedgehog jammed up against the blades,
Killed. It had been in the long grass.
I had seen it before, and even fed it, once.
Now I had mauled its unobtrusive world
Unmendably. Burial was no help:
Next morning I got up and it did not.
The first day after a death, the new absence
Is always the same; we should be careful
Of each other, we should be kind
While there is still time.
Philip Larkin
My mistress' eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lips' red;
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damasked, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.
I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound;
I grant I never saw a goddess go;
My mistress when she walks treads on the ground.
And yet, by heaven, I think my love as rare
As any she belied with false compare.
William Shakespeare
Mark but this flea, and mark in this,
How little that which thou deniest me is ;
It suck'd me first, and now sucks thee,
And in this flea our two bloods mingled be.
Thou know'st that this cannot be said
A sin, nor shame, nor loss of maidenhead ;
Yet this enjoys before it woo,
And pamper'd swells with one blood made of two ;
And this, alas ! is more than we would do.
O stay, three lives in one flea spare,
Where we almost, yea, more than married are.
This flea is you and I, and this
Our marriage bed, and marriage temple is.
Though parents grudge, and you, we're met,
And cloister'd in these living walls of jet.
Though use make you apt to kill me,
Let not to that self-murder added be,
And sacrilege, three sins in killing three.
Cruel and sudden, hast thou since
Purpled thy nail in blood of innocence?
Wherein could this flea guilty be,
Except in that drop which it suck'd from thee?
Yet thou triumph'st, and say'st that thou
Find'st not thyself nor me the weaker now.
'Tis true ; then learn how false fears be ;
Just so much honour, when thou yield'st to me,
Will waste, as this flea's death took life from thee.
John Donne
a virgindade da zezinha
brincávamos a olhar para o meio das pernas
um do outro. sabíamos poucas coisas
sobre o assunto. admirávamos as minhas erecções e
deixávamos alfinetes nos lábios dela. as
dores que sentia eram diferentes
fechava as pernas, um fio de sangue correndo pela
escada fria, e dizia que era uma carne mais
viva mas ainda assim com pele
fazíamos xixi pela carne viva a olhar um
para o outro e considerávamos isso o
acto mais íntimo de todos. o princípio mais
absoluto daquilo a que ainda não
dávamos nome e que era, para nossa
surpresa, o amor
valter hugo mãe
a virgindade do calvin
hoje reparei pela primeira vez no
rabinho pequeno do calvin e uma
turva ternura apoderou-se de mim seguramente
o rabinho pequeno do calvin sempre ali esteve, tão
ingénuo, nas tiras diárias do jornal, mas eu nunca o
vira, senão hoje
e emocionei-me
agora, não tenho dúvida, vou
encontrar naquela página, todos os dias,
o medo de que a vida desmorone misturando
com o sorriso tão desejado de
ser de novo um pouco ingénuo e quase feliz
valter hugo mãe
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny, Pena Capital
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